terça-feira, 10 de junho de 2008

AMIGOS SÃO PRA ESSAS COISAS

O louco é aquele que perdeu tudo, menos a razão.(Benjamin).


O nome dela é Mel. O dele é Paulo. Mel tem os olhos mais doces que já vi. Toda vez que você chega perto, ela lhe dá a pata direita. Nada é mais comovente do que uma labradora preta, no instante que antecede a morte. Paulo é veterinário. Não conseguiu sacrificá-la. Ligou pra mim. Topas?
E assim, ela foi a primeira. Depois vieram a Nega e o Ringo. É fácil ser voluntária, protetora dos animais, quando se tem a casa dos avós para protegê-los...
O Ringo é um belíssimo exemplar de pastor belga de finíssima linhagem. Foi doado pelo canil da PM, sem mais nem menos. Eu, que nasci desconfiado, ainda perguntei para a tenente, por que ele estava sendo doado. Ela respondeu alguma coisa que eu nunca entendi. Mas achava que era um defeito físico.
A vantagem de ser velho é que você se torna um observador privilegiado da vida. Há cinco minutos descobri porque Ringo foi doado. Há um foguetório lá fora e esse imenso cão de guarda está com o focinho enfiado nas minhas pernas, tremendo de medo.
Os bassês, são muito dóceis. Tanto ou mais que os labradores.
-- Vem, Zig!
Arrastando as duas patas trazeiras,feridas num acidente, Zig sai rápido e também vai se esconder entre as pernas do meu neto. Em seguida vão a Zara e a Sininho. A Zara é a senhora Zig e a Sininho é a filha do casal.
Quando eu era um guri, da idade do Arthur, eu tinha um fresquíssimo lulu que, num dia de foguetório como hoje, abocanhou o antebraço de um primo que lhe foi dar guarida.
Depois veio o Thor, um dobermann esquizofrênico. Esse escolheu logo o dono para se atracar. Só os bombeiros conseguiram tirá-lo de cima do Marcelo, completamente enfurecido por causa de uma cadela no cio. O único que me faz falta é o Snoopy, também pastor e também belga.
Internado em um quarto de UTI, minha mulher ficou indignada comigo quando pedi que trouxesse uma foto da Penélope, uma akita dourada que ladrava e uivava a noite inteira, e de quem eu dizia sentir muita falta.
Até hoje, reclamo da sujeira, do fedor e das pulgas de todos eles e digo, que quando o último morrer, vai acabar esse negócio das crianças ficarem enfiando cachorros na minha casa. E canários, maritacas, periquitos, peixinhos vermelhos, verdes, azuis. Mas aí eu também já terei morrido. Vem, Zig!
Roberto Dupré, novembro de 2007.

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