terça-feira, 10 de junho de 2008

STELITA




Nunca uma pessoa mexeu tanto comigo quanto Stela.Star.Estrela.Não um planetinha qualquer . Mas, um sol vagando no espaço. Perto dela, éramos minúsculos pontos imperceptíveis, à procura de luz e calor, num imenso universo de negrume gelado.
Stela foi o último exemplar de matrona que conheci. Ela se sentia e agia como diva no seu pequenino apartamento, ocupado quase todo pelo corpanzil dela. Numa única parede, uma cópia em preto e branco do retrato de Sarah Bernhardt; de resto, objetos trash muito comuns e sem qualquer valor.
Depois de tanto tempo, não lembro, exatamente, o registro de voz dela; ouvido, agora, pela memória, soa como mezzo-soprano.
Stela cantava no coro de uma entidade pública.
Mas, a alma dela, não se conformava com a quarta fileira de um vasto grupo de homens e mulheres vestidos de preto.
Enquanto cantava, lá no coral, o espírito dela avançava até a boca de cena. E ali, se fazia Sarah Bernhardt, Maria Callas, Anna Moffo e, mais recentemente, a Caballé; de ária em ária, Stela voava de um personagem feminino a outro.
Quase no fim da vida, finalmente, foi ouvida. Seria, enfim, a protagonista da ópera que conhecia bem: Fedora.
Fui visitá-la na noite anterior. Stela estava deitada de lado, num canapé, envolta em um xale de lã branco.
Cometi um dos inúmeros erros da minha vida: perdi a hora da estréia. Mas, soube, depois, que a apresentação num teatro da periferia, tinha sido um sucesso.
Stela era irredutível em questões musicais. Tudo estava abaixo de suas fantasias sonoras: Lanza, Pavarotti; alemães e italianos.
Eu insistia. Mesmo sabendo de seu gosto intolerante, dei-lhe de presente um álbum importado e raríssimo de Érik Satie. Nada. Nenhum modernismo. Nenhum impressionismo e muito mesmo minimalismos. Com todo seu tamanho, Stela não se movia do lugar. MPB? Nem pensar. Ella Fitzgerald, muito menos. No dia em que descobri Nina Simone, corri para o apartamento dela, achando o Non me Quite Pas, da líder negra americana, insuperável.
O tempo alcançou Stela, implacavelmente. Gostava de fazer-lhe companhia. Em troca, ela cantarolava árias absolutamente novas para mim. Se estivesse viva, teria dez trinetos. Cinco deles, meus netos.
Pouco antes de ela morrer, lembrei o quanto gostava de uma cancioneta latino americana, que eu pensava chamar-se Estrelita. Agora, Stela, passados tantos anos, achei outra estrelita latina mais condizente com o universo onde você brilhou, e do qual, sinto imensa saudades:

Estrelita
Soledad Pastorutti

Estrellita no te vayas de mi lado estrellita quédate un poquito más siempre fuiste lucerito en mi caminoy hoy preciso como nunca tu señal. Esa luz que ha iluminado mis cantares es a luz que ha sido lámpara en mi andarque me dio felicidades tan querida sy el amor porque en la vida.Sin amor no es vida yay en el alba ha de marcharse la que un díajuró que se moriría si me dejara de amar. El frío cruel, la soledadhan de golpear mi corazón alúmbrala con esa luzque enciende llamasque no se apagan jamás. Estrellita, luz y fuego de mi vida déjale en su corazón este cantar humedece su pañuelo con el besoque nos dimos frente al río como altar. Solamente yo te pido que le digas que no vuele, que es peligroso volar, gavilanes del camino, palomita,clavarán en sus alitas lastima duras de sal.Y si vuelve buscando mi amor eterno me hallará solo y enfermo y un lamento, mi cantar.El frío cruel, la soledad han de golpear mi corazón alúmbrala con esa luz que enciende llamasque no se apagan jamás.

Roberto Dupré - Outubro 2007

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